quarta-feira, 6 de junho de 2012

Entrevista com Thina Curtis - Antologia Poética


O pessoal da 1ª Antologia Poética Momento Lítero Cultural fez uma entrevista com Thina Curtis. E nós reproduzimos aqui. 


 THINA CURTIS - ENTREVISTA Nº 402

ENTREVISTA
Thina Curtis entre os Cristiano Onofre e Eduardo Febo

SELMO VASCONCELLOS - Quem é e o que faz THINA CURTIS dentro e fora da literatura?

THINA CURTIS - Bem, sou arte educadora, ministro oficinas de fanzine onde a literatura é essencial.
Expõe a importância da leitura na formação social de um indivíduo, ressaltando que é por
meio da leitura que podemos formar cidadãos críticos, uma condição indispensável para o exercício da cidadania, na medida em que torna o indivíduo capaz de compreender o significado das inúmeras vozes que se manifestam no debate social e de pronunciar-se com sua própria voz, tomando consciência de todos os seus direitos e sabendo lutar por eles.
Na minha vida também tem uma importância imensa, a de minha construção de caráter de pessoa de informação e também a de válvula de escape que é onde extravaso sentimentos,faço isso em minhas poesias.

SELMO VASCONCELLOS - Quais as suas outras atividades, além de escrever?

THINA CURTIS - São muitas, sou um pouco hiperativa não consigo ficar parada geralmente estou envolvida em 2, 3 ou mais projetos ao mesmo tempo.
No momento tenho dividido meu tempo entre divulgar a nova edição do meu fanzine Spell Work, a Fanzinada, resenhas pra sites e blogs.
Escrevendo poemas, ministrando oficinas e wokshops sobre fanzines. Registrando um novo documentário.

SELMO VASCONCELLOS - Como surgiu seu interesse literário?

THINA CURTIS - Desde muito pequena.
Meu pai sempre foi um devorador de livros e creio que herdei este hábito.
Cresci dentro de uma banca de jornal até mais ou menos uns 6 anos e aprendi ler muito cedo também, pela curiosidade e necessidade que tinha em saber e desvendar o que havia naquelas páginas, bem sou aquariana,minha imaginação sempre foi muito fértil rs...

SELMO VASCONCELLOS - Quantos e quais os seus livros publicados?

THINA CURTIS - Não tenho livros publicados, só meus fanzines mesmo.
Produzo coletâneas musicais, eventos culturais. Colunista no site impulso HQ, site relacionado a histórias em quadrinhos.

SELMO VASCONCELLOS - Qual (is) o(s) impacto(s) que propicia(m) atmosfera(s) capaz(es) de produzir poesia ?

THINA CURTIS - Ah, sempre estou inspirada, não me faltam atmosferas. Como toda poeta e além do mais sou mulher tenho uma sensibilidade muito grande. Embora minha poesia traga um que bem grande de melancolia, sempre escrevi textos meio anárquicos com minha indignação com tudo ao meu redor. As paixões, o prazer, os medos e anseios, o caos mundano...
Venho de uma linha de literatura marginal e incompreendida, hoje até mais aceita.

SELMO VASCONCELLOS - Quais os escritores que você admira ?

THINA CURTIS - São tantos que acho até injusto citar algum. rs.
Digamos que minhas influências vem de Baudelaire, Bocage, Neruda (amo Neruda!), Poe , Goethe, Cruz e Souza, Clarice Lispector, Hilda Hist, Gilka Machado. Gosto muito do Glauco Mattoso, Tenho lido muita coisa lançada recentemente no Brasil de forma independente, Cristiano Onofre, Eduardo Febo, os autores de literatura marginal e literatura fantástica que são muito bons! Poesia eu simplesmente devoro!!!!!! Sempre tenho algum livro de poemas comigo.

SELMO VASCONCELLOS - Qual mensagem de incentivo você daria para os novos poetas?

THINA CURTIS - Escrevam mesmo, saiam do papel! abram um portal para um horizonte bem mais amplo. Explorem!
A poesia é mais do que pensamos. Necessitamos externar o que está lá oculto, enraizado em nós mesmos. Não podemos ficar inertes, a arte está sempre latente e a poesia para mim é isso Sentimento, o que seria da vida sem a poesia?

Tem uma citação de um escritor/pesquisador que gosto muito:
No fim de contas, o que somos, o que é cada um de nós senão uma combinatória, diferente e única, de experiência, de leituras, de imaginações?
Enrique Vila-Matas, eu acredito que é isso!

www.fanzinada.com.br
Lancei um zine tb de minhas poesias ilustradas por amigos reuni num trabalho chamado closer
http://molholivre.blogspot.com.br/2011/09/poesia-de-thina-curtis.html
http://fabimenassi.blogspot.com.br/2011/11/arte-sequencial-de-poema.html

POESIAS

MULHER

Rastejando pelo chão
sente em sua pele o frio, o medo, a dor, o ódio, o rancor
O vazio, a depressão
Impostos pela vida e sociedade
Banida, excluída, desprezada, humilhada
Machucada, com cicatrizes e feridas abertas(e expostas)
Busca forças para lutar
Em sua lama guerreira, felina e nobre
Prostituta, costureira, professora, médica, operária, faxineira
Rica ou pobre
Mulher que chora e não se envergonha e se preserva
Mãe,madrasta, tia, avó, amiga, amante-Mulher!
chama que inflama no teu peito
objetiva, prática, sensual, voraz e intensa
Que na paz ou na guerra- batalha
artista, intuitiva, visionaria que acredita, busca e luta
Menina-mulher, humana natureza
Poesia e alquimia fundem em seu interior
Mãos de aço que dão afeto,que acalentam
Mulher que clama por respeito, dignidade e justiça
que é apedrejada, que chora e sofre em silêncio
E segue em frente
Que ama em abstinência
Que morre doente e vela pelos entes ausentes
que é violentada e encarcerada como animal
E indigente, é jogada fora
Que é feliz simplesmente por existir
Sua luz é maior que qualquer estrela
Mulher - estrela guia, um botão de rosa no imenso jardim
Mulher que sangra e fecunda no seu ventre
Gerando vidas, enlouquece na TPM e na menopausa
Ama a todos e esquece de si mesma
E, mesmo assim, é limitada, crucificada
É esquecida ou trocada
O lado melhor de Adão
Essência das divindades
Deusa ou guerreira
Mulher-Razão e Sensibilidade
Musa inspiradora
Êxtase e prazer no seu olhar profundo
Mulher, que dança, canta e encanta- frenesi!
Paixão é sua forma concreta, sua dádiva
Independente do credo
Da raça
Opção do sexo
Mulher!
Simplesmente e plenamente
Mulher!


ECOS

A beleza natural das coisas
vai se modificando e se tornando apagada e desnecessária
Enquanto o corpo vaga entre lamurias sombras e silêncio
A alma inflama esperanças e cores celestes
Entre sonhos, mitos distantes e improváveis
que mantém acesas e vivas o pulsar de um coração
sem razões sem destinos
sem materialismos e concretizações
Só instintos que de olhos fechados
Sem direção certa
Vagueia, tateia, sente
Machuca, foge e busca
insiste em viver
mesmo que
Suas manhãs sejam de reflexões
As tardes de Ilusão
E as noites de Solidão...


ICE

Tenho estado estranha
por estes dias difíceis e frios
me pego chorando
lágrimas pelas perdas e desencantos
me pego chorando
por coisas fúteis
e por aquelas que nunca vão acontecer
me ponho a caminhar solitária e deturpada
pelas noites gélidas e inconstantes
pelas ruas escuras e nebulosas ouço as vozes do silêncio
ecoando em minha mente, alimentando o frio
o vazio e a solidão
invade o meu corpo insano
que caminha sem cessar
sem rumo, com minhas preces(rogadas)
sigo o meu destino assim, estranha e sozinha
no escuro, congelo, hiberno
"por entre sombras"
ninguém mais espera por mim.


EU

Ando meio ocupada atualmente
Aventurando ser eu mesma
Aquela de outra hora
De outros tempos
Aquela que ainda não tinha estigmas e densas feridas
Aquela que ainda não tinha percorrido caminhos
Submersos em teorias
E alguns dilemas do passado, presente e futuro
Ando aprendendo a caminhar mais devagar, a desacelerar
A vivenciar os impulsos que sempre contive
Resgatando em mim
Minha melhor melodia
Sem ruídos, rabiscos sem faz de conta
Sem certezas ou palavras reprimidas
Incapazes de serem expressas genuinamente.
As amarguras podem ficar caladas
Eu sigo por aí atualmente
Suprimindo o tempo
Curtindo os minutos e a ocasião
A cada segundo
Errante
Aprendendo
A Arte De Se Viver Constante!


Nimbo

Mais um entardecer...

Logo a noite reinará com todo seu esplendor,

Mais uma vez soberana
Sombras, silêncio, bruma
Vozes retumbam distantes
Alguns passaros se acomodam
Nas copas das arvores já adormecidas.
Um leve zéfiro gélido e boemio sucurra
Uma doce mensagem de melancolia lugubre
As luzes das estrelas brilham, alucinam
Ofuscam
Tudo em volta dos olhos inquietos, circunspectos
O corpo enfadonho, exausto e claustro
O rosto colado naquela janela
Onde as lagrimas frias miscigenam ao mormaço
Daquele solitário vulto
Aforismos
Refletidos no espelho
Um moribundo ser com o coração embalsamado
Em seu mutismo e penumbra eterna...